segunda-feira, 11 de junho de 2012

Meninos comportados

Edi Prado

A velhice não tem idade. E a cada dia esses velhinhos saem das varandas, dos santuários e dos escritórios, onde há anos passaram aprendendo a ser homem, exibindo a discreta habilidade em cutucar a empregada, que ia levar o café para as visitas. Risinhos lá pra dentro e o pai, olhando pra tio, dizia orgulhoso: Esse menino não tem jeito.  Era ela passando a mão nele, que ficava todo “arrepiado” e depois entrava na sala do escritório com aquela cara cínica, como se ele fosse o grande garanhão da  história.

É a juventude, diziam em tom de cumplicidade. De vez em quântico, contava lorotas, como havia enganado o picolezeiro, a menina da cocada, o lustrador de sapatos. Ele estava ficando esperto. Como sabia levar e vantagem em tudo, o menino era o orgulho da nação dos tios, pais e parentes velhos.

Parece até aquele meninão, que estava sendo bem “talhado” para a vida pública. Esse menino ainda estudante andava  sempre de paletó e gravata, cabelos penteados, bigode aparado ensaiava o estilo que foi a sua marca desde jovem: os mesmos cuidados com o cabelo e o bigode aparados, paletó jaquetão, gravatas sóbrias, gestos comedidos, unhas aparadas e brilhantes. Tal como se apresentaria aos brasileiros quando chegou a assumir cargos importantes. Como político nunca freqüentou  um comício, nos lugares menores, que não fosse de paletó. A indumentária é  a marca. Foram talhados para suportar tudo em nome do bem estar deles e dos grupos deles.

Têm que manter a aparência custe o que custar. A essência? Deixa essa incômoda pra lá. O que  importa é a aparência. O pessoal gosta de ver pessoas comportadas, bem mandadas, cultas, que conhece vários países, fala inglês, francês e até alemão. Mesmo que não fale nada, mas têm que dizer que fala tudo, todos os idiomas, até o intricado idioma dos porcos e dos javalis.

E é que está se vendo. O  retorno desses bonecos enfeitados à vida política nacional, e com cópia bem vagabunda para o Amapá. Made in paraguai. Eles ocupam os microfones, as TVs, os salões. Não importa qual salão. Eles têm que estar presentes. E comentários só positivos. Falar mal de quê se todos estão certos? Para esses velhos de  penugem de bigode, todos são bons até quando pensarem em cortar a bocada deles.  Aí eles passam a ser maus, pessoas sem índole, egoístas e só se falam pela internet, por e-mail ou por celular, com medo de contrair sapinhos. Tem uns que ficam de mal à morte, até ganharem um presentinho. Tolos de ocasião.

E às vésperas das eleições eles saem pegando nas mãos de rapazes, empinando papagaio, jogando bola, comendo camarão com “as mãos”, contrariando os hábitos de comer com a boca, se tornando uma pessoa muita dada  e vendo de perto a realidade do povo.

Tem aqueles que estudaram muito. Sabem tudo sobre tudo. Fala de feijão a prisão. Mas quando alguém quer se aprofundar nas questões considera perda de tempo, porque tem coisas mais importantes para ser feita ao invés de discutir com a população. O povo não quer discutir nada, quer é comer, trabalhar, ter dinheiro pra comer camarão e tomar cachaça e um pirão de açaí com tamuatá.

Agora eles querem atuar na televisão. Querem um estúdio onde caiba toda a vaidade e todas as fantasias deles. Querem um espaço onde possam exibir os projetos de poder e de barganha. Eles querem dizer que se não forem  contemplados com o que eles querem mais a metade dos outros, ameaçam denunciar e criar problemas com a Justiça, com o fisco e com  a Receita Federal. Existe diferença entre o fisco e a Receita Federal?

E quando saem para lugares públicos é como se  tivessem na privada.  Pode ver, mas não pode tocar. Até porque não é nada salutar posturas assim.  E esses meninos comportados não têm idade. Existem uns que não têm idade para se meter nisso. Já estão passados. E outros fizeram que eles acreditassem que é o momento certo, porque trazem no sangue os genes de família. E eles estão por aí pedindo para adentrar em sua casa. Não deixe. Não permita que adentre em sua casa. Controle remoto neles.

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