quarta-feira, 8 de agosto de 2012

OJR,M JULHO 2012 página 2

O MUNDO MARAVILHOSO DOS QUINTAIS

Armando Sérgio Mercadante


Passei parte da minha infância brincando no quintal da minha casa dividindo o espaço com frangos, galinhas chocas, pintinhos, patos, marrecos, porcos engordados no tradicional chiqueiro, cabritos, árvores frutíferas e hortas. Caçar minhocas para servirem de iscas nas pescarias era divertido. Ver jararacas, jaracuçu, cobra coral, cobra cipó, cobra de duas cabeças, aranha caranguejeira sendo caçada pelo marimbondo cavalo e o revoar dos bitus e tanajuras faziam parte do cotidiano. Descalço trajando apenas um calção dava asas a minha imaginação e o quintal se transformava na selva onde morava nosso herói Tarzan com sua macaca Chita.  Construíamos nossos brinquedos: atiradeiras, carrinhos de rolimã, arcos e flechas, papagaios, revolveres ,espadas, facões de madeira dentre outros que não me recordo.
            Quando chegava o dia de matar o porco, engordado com lavagem, a família – principalmente as mulheres - se reunia para participar do cerimonial. Na hora de matá-lo escondia atrás de uma árvore, fechava meus olhos e tapava os ouvidos com as mãos.  Quando chegava a hora de abrir o porco, tirar a barrigada, separar as peças de carnes, fazer o chouriço, a lingüiça os miúdo e o torresmo que eram fritos num tacho, olhava espantado. Minha boca enchia de água na espera de um pedaço de torresmo. Hoje os quintais transformaram-se num pedaço de terra sem vida. Os frangos, ovos, legumes, verduras, lingüiça, chouriço e carne de porco são comprados nas quitandas e açougues.
            As crianças atualmente vivem confinadas em “gaiolas” que recebem o pomposo nome de apartamentos. Mesmo os condomínios que possuem playground, apesar do nome importante, não chegam aos pés de um simples quintal. Os brinquedos e jogos eletrônicos podem até desenvolver o raciocínio em contrapartida embotam a imaginação que é o combustível da criatividade. Sobre o assunto o jornalista Antônio Carlos Tórtoro escreveu: “A imaginação nos possibilita trabalhar e combinar idéias e fatos conhecidos e gerar, assim, novas idéias. A imaginação permite a criação de idéias e está associada intimamente a capacidade de criação (...)”. O Pediatra Douglas Lourenço, de Juiz de Fora, em seu artigo A RUA ARAGÃO NOS TEMPOS DAS RADIONOVELAS, publicado no Fanzini MAR DE MORROS, escreveu: “Nós crianças na época, herdamos um pouco do espírito criativo das radionovelas e das traquinagens de Jerônimo e Moleque Saci. Assim crescemos audaciosos e felizes! Pelas radionovelas recebíamos o combustível da criatividade: a imaginação!”.
            Construíamos nossos papagaios (os meninos cariocas falavam pipas e guris) com papel de seda, varetas de bambu, linha de costura para o cabresto e o grude que a mamãe fazia.  Sem falar na atiradeira.  Tínhamos uma participação ativa nos brinquedos. O contato dos pés descalços com a terra era saudável. Hoje alguns Pediatras, para escândalo de algumas mães, sugerem vitamina “S”, de sujeira, para aumentar a resistência que é obtida pelo contato das mãos e pés da criança com a terra. De vez em quando pisávamos num caco de vidro ou num prego. Hora de ir para a farmácia para fazer o curativo ou “costurar” o corte e tomar a injeção antitetânica.  Que tortura meu Deus! Pediatra? Éramos imobilizados e ia sem anestesia mesmo. Pediatra não fazia parte do nosso mundo.
            Coisas do passado? Saudosismo inútil? Ou na encruzilhada entramos pelo caminho errado para não dizer pelo cano. Tem como reverter essa situação?
            PARA REFLETIR: “Vivemos agora um tempo de “pouco pai, pouca mãe e pouco espaço”. Pouco pai: porque o pai é o Provedor do Lar e são muitas as horas que se ausenta para trabalhar. Pouca mãe: porque a mãe não é mais a mesma “Rainha do Lar” ou a “Mulher Maravilha”, sendo também Provedora do Lar e se ausentando para cumprir sua missão moderna. Por causa disto, há até quem diga que a educação das crianças de hoje foi terceirizada! Pouco espaço porque no mundo moderno ou nas grandes metrópoles nossas crianças não têm mais quintal ou rua para brincar. Brincam num quarto de 2 ou 3 metros quadrados  ou se isolam num espaço ainda menor: as 15 polegadas de um monitor de computador.
                O hábito de viver em apartamentos, apesar dos playgrounds, aumentou e muito o nível do stress infantil: “porque se a criança não se quebra por fora, se arrebenta toda por dentro. A verdade é que um quintal faz milagres". (Dr. Douglas Lourenço)

O jornalista Edi Prado enviou e-mail comentando o artigo do Armando. Confira
08-AGOSTO-2012

Voo rasante nos quintaisÉdi Prado - Macapá-Ap

O Dr. Douglas Lourenço tem cara de menino de quintal. Tem o olhar duplo: um na traquinagem e outro na mãe, para não ver nem saber o que ele estava aprontando. Eu falo assim com toda essa segurança porque eu fui ele ontem nos quintais de minha casa e os dos vizinhos, sem cercas nem arames farpados. E se tivessem ambém, seria o mesmo que não ter. Para moleque que se preza, não existe obstáculo que não possa ser superado.

Lembranças, apenas lembranças de casas com quintais e moleques travessos com cara de anjos. Falam em avanço da modernidade, tecnologia, falta de espaço, crescimento da população. Tudo desculpas esfarrapadas.
Porque, ao invés de construir playgrounds, os prefeitos,que também foram moleques deste tempo de aventuras, deveriam preservar as reservas naturais e dar esse pomposo nome com as velhas aventuras dos tempos idos.
Assim, preserva a natureza, promove o contato direto com os segredo dos quintais com toda a fauna e flora, típicas dos quintais e restaura a vida de meninos fortes, sadios, cheios de vida e deixa os botões dos vídeos games e outros brinquedos modernos , para quando retornarem das escolas e outros afazeres de menino.
Creio que assim, os hospitais nem precisam cuidar de tantas doenças causadas pela obsidade e sedentarismo. No máximo alguns esparadrapos, rifocina, mertiolate ou até mesmo algumas gotas de limão para estancar o sangue e restaurar os tecidos com rapidez e segurança.
Pode ocorrer quebrar alguns ossos, mas isso só reforça o esqueleto. Onde quebrou não quebra mais. A cola natural reforça o osso molenga. O Dr. Douglas Lourenço sabe bem como equipar um pronto atendimento para moleques de quintais. Ele tem pósgraudação nessa área.
Existem textos tão inocentes que nos levam num voo rasante pelo passado do tempo em que as crianças dispunham de quintais. E sem perceber, fiquei tocando numa tatuagem natural 'desenhada' pela queda de um jambeiro.

Leia AQUI CRÔNICAS, CONTOS DE EDI PRADO


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários aguardam nossa aprovação. Obrigado por opinar.